OPERAÇÕES DA 38ª COMPANHIA DE COMANDOS
OPERAÇÃO "FADISTA"
38ª COMPANHIA DE COMANDOS
8 e 9 de Agosto 1972
Relato feito a partir das
memórias do Capitão Comando Pinto Ferreira
Um mês de treino operacional tinha passado. Iríamos terminar a
fase operacional com uma colocação por heli transporte já bem
dentro do terreno inimigo.
Custa-me dizer mas foi um bom exemplo de como não se devem fazer
estas coisas.
O planeamento feito era para ao romper da alva sairmos de heli
da pista de Mansoa e desembarcarmos 3 sub agrupamentos a 2
grupos em 3 locais separados.
Com as habituais desculpas do tecto os 5 helis chegaram tarde.
Com a capacidade de transporte instalada, cada colocação teve
que ser feita por duas levas.
Tudo levou a que a colocação das 3 forças demorasse praticamente
toda a manhã.
Deduzo que as forças do PAIGC perante todo aquele estendal aéreo
a passar-lhes por cima da cabeça devem-se ter voluntarizado para
tomarem parte na derradeira acção da fase operacional da 38ªCC.
Que diferença das operações em Angola com as heli-colocações a
serem feitas muitas vezes ao anoitecer para que o inimigo não
tivesse capacidade para descobrir o sítio em que desembarcávamos.
Uns tempos antes tinha feito um revis da zona onde iríamos
actuar e pela primeira e única vez consegui avistar do alto do
DO-27 dois elementos inimigos que se deslocavam por um trilho o
que foi aproveitado pelo piloto para demonstrar as suas
habilidades com os rockets.
Fui achando piada à cena até à altura que a DO começava a
soluçar dando a entender que o motor não estava com muita saúde.
Foi-me explicado pelo piloto que devido ao calor (muito) que
quanto mais alto estivesse, por deficiência de lubrificação, o
motor engasgava-se mas que o assunto tinha logo solução assim
que se baixava para cotas mais baixas.
E assim aconteceu.
Pois dizia eu em hora da manhã avançada com o calor a cobrar eu
seguindo o voo ao lado do piloto tentando fazer coincidir o
terreno com a fotografia aérea que levava na mão, lá chegamos ao
local de desembarque, uma pequena bolanha cheia de capim seco
ladeada de mata cerrada por quase todos os lados.
"...
Saltamos a pouca distância do solo e como era norma tomamos as
posições de segurança apropriadas...."
Saltamos a pouca distância do solo e como era norma tomamos as
posições de segurança apropriadas.
Deixamos que os helis se afastassem pois por cima de nós
espalham forte vento e rugidos que dificultam tudo aquilo que
queiramos fazer.
Como sempre quando peguei na foto e olhei para o terreno que
diferença para a ultima vez que tinha olhado e comparado de cima
no heli.
Agora tudo me parecia ao contrário como se estivesse de cabeça
para baixo.
Mas havia que sair dali com urgência não fosse o inimigo ter os
cálculos feitos para pôr em cima de nós algumas granadas de
morteiro.
Ainda bem que ainda não tinham sido inventados os “portáteis”
com programas próprios para o tiro de morteiro e nem todos os
guerrilheiros tinham a 4ª classe que os habilitassem a fazer
cálculos.
Começamos o deslocamento por uma zona muito aberta ideal para os
campos de tiro dos RPG inimigos.
Claro que não era do meu agrado mas muitas vezes tem que se
jogar com o terreno que se nos aparece pela frente.
O rumo que traçamos levou-nos directamente para uma zona mais
baixa mas onde tínhamos uma certa cobertura dada pelo arvoredo.
Movemo-nos por um trilho batido o que nos tornou mais cautelosos
pois sabíamos que estávamos a pisar terrenos de uma possível
organização inimiga.
De repente á nossa frente vejo cubatas disseminadas por uma zona
de arvoredo menos denso.
Olho para cima e no alto de uma palmeira, uma “ginga” em bom
estado, bem amarrada, tipo está verde não presta e com ela
alguns sacos, vianda? Ou mancarra? Não há tempo para indagar,
aqui há o costume de ter os morteiros apontados para dentro dos
próprios acampamentos, para que uma vez que estejamos cá nos
serviam estilhaços fumegantes.
Dei entretanto ordens para a última equipa emboscar o trilho que
nos trouxe a este “resort”.
"...
Não foi preciso esperar muito para se ouvir um tiro e me ser
comunicado que tinha sido abatido um elemento que se deslocava
ao longo do trilho seguindo o nosso rasto. ..."
Não foi preciso esperar muito para se ouvir um tiro e me ser
comunicado que tinha sido abatido um elemento que se deslocava
ao longo do trilho seguindo o nosso rasto.
Era portador de duas granadas de mão, defensivas.
Sabia que não tínhamos muito tempo até sermos incomodados pelo
In.
Terminada a verificação da tabanca dei ordem para rapidamente
sairmos do local.
Claro que não ateamos fogo às palhotas, era dizer ao inimigo,
façam fogo, disparem que nós somos à prova de bala.
Apesar da guerra durar há tempo suficiente, as ordens eram dadas
nesse sentido, sem cuidar de saber das consequências imediatas
para a força que as executava.
Por norma só autorizava e executava este tipo de destruições
quando já estávamos no chamado caminho de regresso.
Saímos da tabanca e enveredamos por um terreno ligeiramente a
subir, descampado e bordejado de ambos os lados por uma mata de
árvores baixas e pouco densa.
Penso que os últimos elementos estariam aí a uns duzentos mts da
povoação quando começamos a ser alvejados por disparos de RPG e
rajadas de arma automática.
Simplesmente impressionante.
Cada disparo produz 2”bangs “, um na saída e outro quando a
carga rebenta ao nosso lado (ou em cima).
Foi preciso chegar à 3ª comissão, para ter esta experiencia, se
fosse agora era “adrenalina”.
O fogo vinha da área da tabanca.
Sabia que os meus dilagramas, M-40 e M-60, bem assim como as
bazookas não chegavam lá.
Ainda podia responder com o morteirete mas sem eficácia.
Por isso dei ordens para sairmos da linha de tiro mudando a
direcção de progressão a 90 graus deixando os atiradores In,
entretidos a dispararem para um sítio onde já não estava.
Junto à mata do lado esquerdo por onde seguíramos seguia um
trilho paralelo à direcção que trazíamos.
Os disparos tinham cessado, sinal de que o In teria iniciado a
perseguição á nossa força.
Como o inimigo se revelara na retaguarda da nossa progressão
desloquei-me durante certo tempo com o grupo que ia nessa
posição.
Porem da frente informaram-me que havia uma bifurcação do trilho
pelo que tomei a decisão de tentar uma armadilha a possíveis
perseguidores.
Dei ordem ao grupo da frente que seguisse o novo trilho e que
emboscasse numa mata que estava ali à frente e dando indicações
que eu com o outro grupo ia caminhar mais uns 200mts, saltaria
do trilho e a corta mato por uma área de capim rasteiro e
arvoredo disperso iria tomar posição numa mata que havia ao lado
da 1º mas separada desta por uma pequena bolanha de capim seco .
Ficavam pois os dois grupos lado a lado paralelos à direcção de
progressão que vínhamos trazendo em situação que nos permitia
esperar pelo inimigo e surpreende-lo.
Como esperava o inimigo vinha a seguir o nosso rasto mas decidiu
inflectir para o lado do outro grupo.
Por rádio tinha dado as ultimas instruções ao cmdt de grupo,
lembrando-lhe a necessidade de estarem abrigados e camuflados.
Não me demorou muito para que se ouvissem alguns disparos
seguidos da reacção doutros.
"...
Comunico com o grupo e logo a notícia fatal chega.
Tínhamos um morto e um ferido..."
Comunico com o grupo e logo a notícia fatal chega.
Tínhamos um morto e um ferido.
A indicação que me foi dada foi que um elemento se adiantara à
sua equipa quando já todos estavam instalados e nessa posição
foi apanhado pelos tiros de surpresa do inimigo.
Na reacção ouve um elemento que ficou ligeiramente queimado
devido a um disparo de uma basooka nossa.
Foi feito o pedido de evacuação que foi imediata.
O morto era o soldado Francisco José Matos da Silva, estávamos a
8 de Agosto de1972.
A defesa da Guiné cobrava com juros muito altos aqueles que
sentido que um País, uma Nação não é apenas presente mas passado
e futuro também, voluntariamente se apresentavam nos postos mais
difíceis para correrem os mesmos riscos que D Afonso correu
quando inventou uma Nação e um País chamado Portugal.
O resto desta operação foi uma progressão até à área de recolha
por viatura na estrada Mansoa Bissorã, balizados por um inimigo
que nos foi flagelando à medida que íamos atingindo as suas
sucessivas implantações no terreno o que levou a que o “Lobo
Mau” se posicionasse por cima das bolanhas onde iríamos passar
dando-nos assim cobertura aérea que foi muito útil para
ultrapassar os constantes ataques do In. Nem podemos parar para
comer e lembro-me se que se quis meter alguma coisa à boca tive
que o fazer a andar pois quando nos preparávamos para parar os
tiros mesmo ali ao nosso lado fizeram-me reflectir e seguir
viagem. Dia para esquecer?
Aqui o que faço é descrever as memórias da minha participação
nesta operação não tendo lembrança do que se terá passado com os
outros dois bigrupos que estão referidos na história oficial,
admito que não fossem mais dois, pois dias antes quase um grupo
ficou inop, e dois alferes tinham baixado ao HMB.
Estas baixas
foram de curta duração.
Dali a 3 dias estávamos a caminho do aquartelamento dos Comandos
de Bissau em Brá, para a 14 Agosto, dia da Infantaria, dia de
Aljubarrota e presidida pelo Comandante Chefe interino das FAG,
Comodoro Moura dos Santos ter lugar a cerimónia de imposição de
Crachás.
Desta ultima parte da formação de um comando e face ao seu
desempenho foram eliminados 1 furriel e 9 praças.
Neste período
de preparação operacional além da morte do soldado Francisco
Matos Silva houve ainda a lamentar a morte do soldado Ilídio da
Costa Moreira, por acidente com arma de fogo em 15 Julho 1972,
facto que aconteceu dentro da caserna em Mansoa.
Foi pois já
carregados de acontecimentos que nos vai ser dada a 1ª missão
como Comandos.
No dia seguinte à cerimónia dos crachás marchamos
para Gampará (não, não era a imobiliária)
Soldado
CMD
Ilídio da Costa Moreira
Soldado
CMD
Francisco José Matos Silva
Operação
Fadista - Assalto heli transportado por forças da 38ª
Companhia de Comandos
Operação
Fadista - Assalto heli transportado por forças da 38ª
Companhia de Comandos
Operação
Fadista - Assalto heli transportado por forças da 38ª
Companhia de Comandos
Operação
Fadista - Assalto heli transportado por forças da 38ª
Companhia de Comandos
Operação
Fadista - Assalto heli transportado por forças da 38ª
Companhia de Comandos
Operação
Fadista - Assalto heli transportado por forças da 38ª
Companhia de Comandos
Operação
Fadista - Assalto heli transportado por forças da 38ª
Companhia de Comandos
Operação
Fadista - Progressão das forças da 38ª Companhia de
Comandos
Operação
Fadista - Destruição dos objectivos inimigos pelas forças
da 38ª Companhia de Comandos