OPERAÇÕES DA 38ª COMPANHIA DE COMANDOS
Obrigado
pelo vosso convite
38ª COMPANHIA DE COMANDOS
Com o relato da 2ª coluna da
38ªCC a Guidage realizada a 29Maio73 termina o meu contributo em
termos de memórias operacionais deste período da minha vida.
Efectivamente Guidage foi a minha última operação de combate na
Guiné.
Só vou voltar a ouvir os tambores de Guerra em 1991 em que mais
uma vez voluntário, assisti e tomei parte como Monitor da CEE,
ao início do conflito que dilacerou a antiga Jugoslávia.
Recordo que cheguei à 38ªCC como voluntário depois de por duas
vezes ter cumprido comissões de serviço em Angola (uma das quais
também voluntário na 20ªCC e CIC).
O conflito dos Balcãs e
outros que se desenharam na Europa vieram mostrar como funcionam
os interesses dos diferentes países.
Foi com espanto que fui assistindo a posições em tudo
semelhantes à nossa, na luta contra o chamado “terrorismo” e “guerras
de independência”, expressas por quem mais nos atacou e apoiou
os movimentos contra quem lutávamos, na nossa Guerra do
Ultramar.
Bem mas isso são contas de outro rosário.
Aquilo que quero aqui deixar escrito neste testemunho final da
minha campanha operacional com a 38ªCC, em primeiro lugar a
minha homenagem a todos aqueles que da vida civil, vindos de
todo o nosso Portugal, se voluntariaram para servir na Companhia
sabendo que iriam lutar onde o Inimigo e as condições eram as
mais duras.
Nunca terei palavras suficientes, capazes de vos transmitir a
consideração que tenho por vós, por aquilo que deram ao País.
Depois afirmar que é com orgulho que menciono o papel
altissimamente relevante que os Comandos desempenharam durante a
crise de Guidage.
A operação contra a base Inimiga do Cumbamori,
em pleno Senegal, realizada pelas 3 Companhias de Comandos
Africanas, sob o comando do nosso Comandante de Batalhão Major
de Cavalaria Comando Almeida Bruno com a participação do 2ºCmdt
Capitão de Infantaria Comando Raul Socorro Folques (ferido nesta
acção) contribuiu decisivamente para resolução definitiva deste
problema.
O papel da 38ªCC tomando parte em duas colunas, uma antes da
operação do Cumbamori, conseguindo ultrapassar o cerco montado
ao redor de Guidage, levou uma grande dose de esperança à
guarnição cercada, como se pode ler no relato de Amilcar Méndez,
pois permitiu entregar reabastecimentos, fazer evacuações etc. e
sobretudo levantar o ânimo daqueles que já desesperavam por
socorro.
A segunda coluna foi a da consolidação da situação.
Creio que as
granadas lançadas contra a nossa posição, na única vez que o
Inimigo o fez neste período (30Mai a 10jun73), foram mesmo de
despedida de quem indo rumar para outra acção resolveu assim
dizer adeus dessa maneira.
Uma terceira palavra para mencionar o relato impressionante das
condições em que se deu a morte do nosso Companheiro José Luis
Inácio Raimundo e da determinação dos elementos da Companhia em
não deixarem para trás o seu corpo numa demonstração de caracter
e de camaradagem, virtudes inalienáveis do Comando.
Lembro-me que estando nós em Mansoa, quando a coluna mais tarde
saiu de Binta com o caixão do José Luis, alguém me alertou para
a sua passagem pela localidade e nesse dia e momento decidimos
levar a cabo na Igreja local uma cerimónia religiosa em sua
memória de manifestação do luto que nos atingia.
A terminar mais uma vez uma palavra de apreço a quem não tendo
outras intenções e objectivos deu luz à nossa acção nestes
momentos: o Coronel Manuel Amaro Bernardo publicando (Guerra,
Paz e Fuzilamento dos Guerreiros) os depoimentos escritos que
lhe enviamos (eu e o Furriel Comando Ludgero Sequeira), o
Coronel Paraquedista José de Moura Calheiros que apesar de não
nos conhecer soube reunir elementos que lhe possibilitaram fazer
referências à actuação da 38ªCC (A Ultima Missão) muito próximas
da realidade e também e porque não o Coronel Paraquedista Nuno
Mira Vaz que soube reconhecer o erro de ter tomado como válidos
escritos publicados (Batalhas de Portugal, Guiné 1968-1973
soldados uma vez…).
Para trás ficam afirmações e comparações descabidas com outras
realidades como os ataques em vagas e a história dos cordéis nas
armas, numa altura em que o PAIGC tinha armamento em quantidade
e qualidade (que nós até utilizávamos quando capturado e nos
desse jeito…) não necessitando destas “ajudas” para dar “brilho”
às suas acções…. facto é que tais palavras e omissões
chamaram-nos a uma realidade que nos levou a desencadear acções
que culminaram na realização deste Website.
Neste final de memórias o meu muito obrigado por ter sido
chamado a colaborar na memória colectiva da 38ª CC, pequeno
tributo que presto aos cidadãos que a integraram e tanto nos
deram…
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