OPERAÇÕES DA 38ª COMPANHIA DE COMANDOS
O INFERNO DE GUIDAGE
38ª COMPANHIA DE COMANDOS
9 Maio 1973 e 29 Maio 1973
Relato feito a partir das
memórias do Capitão Comando Pinto Ferreira
Este capítulo merece a
nossa particular atenção porque no fundo ele é que está na
génese de tudo o que até aqui temos escrito.
Em certa medida foi
face aos mais diversos textos publicados e anunciados em
diferentes “medias” sobre “Guidage” e que inicialmente
suscitaram apenas os nossos sorrisos de desdém, julgamo-los em
conformidade com o aforismo Minhoto de que “Presunção e agua
benta cada qual toma a que quer” e que como tinha acabado a “censura”
a asneira era livre.
Sabia-mos das inúmeras “Estórias” que muita gente que tinha
passado pela “guerra” contava porque dos “poleiros” onde tinham
estado ouviram dizer como determinados acontecimentos se tinham
passado, sem nada terem visto e nem ouvido as explosões.
Recordo
aqui os relatos do infausto desastre da “Ponte Alferes Nunes”
nos quais vários “escritores” relataram como se tivessem
presenciado os factos mas na realidade estavam longe sequer para
ouvir as explosões mas relatam-nos como se Cátedra própria,
possuíssem.
Aconteceu com Guidage, pelo menos na coluna em que tomei parte
(29Mai73) com “repórteres” que apenas se limitaram a seguir as
pisadas dos “Homens” da 38ªCC mas pior do que isso pois além de
escritores assumiram o papel de protagonistas de acções que não
executaram.
Correcto seria dizer em que ponto da coluna seguiam e o que
viram e fizeram antes, durante e depois dos factos.
Estes assuntos seguiram assim até ao nosso encontro de Pinzio de
2007, altura em que o livro “Guiné 1968-1973” edição do
Instituto de Defesa Nacional já dera à luz há alguns anos (só
mais tarde me chegou ao conhecimento) e que me fez inclinar para
mudança da atitude que tinha mantido até então.
Agora tratava-se
de História e aí estava em causa a memória dos nossos mortos (devidamente
assinalados neste WSite) mas também o sacrifício dos nossos
feridos de que aqui individualizo o Furriel Comando Ludgero
Sequeira e o 1º Cabo Comando Filipe Tavares verdadeiros exemplos
de virtudes Comando como abnegação, coragem estoicismo que é
justo realçar.
Naquele encontro em que compareceram aqueles nossos 2
companheiros inteirei-me de que o Coronel Manuel Amaro Bernardo
teria em preparação um livro sobre a Guerra na Guiné (Guerra,
Paz e Fuzilamento dos Guerreiros) em que nos abria a
oportunidade de dizermos de nossa justiça, realidade totalmente
distinta de quem redigiu o livro do IDN pois ignorou a
participação a 38ªCC referida apenas em que “também lá ia uma
Companhia de Comandos”. (esta postura foi corrigida pelo autor
em duas missivas que me enviou lamentando ter tomados como
correctos e honestos factos descritos e já publicados na altura
em que redigiu o livro do IDN)
Pelo atrás referido tomamos a decisão de escrever os depoimentos
insertos no Livro do Cor Bernardo (Eu e o Dr Ludgero Sequeira).
No seguimento desta decisão vieram outras que nos levaram a ver
que era importante preservar e difundir as nossas memórias não
só como legado que deixávamos aos vindouros mas também agora
para dizer que estivemos em Guidage mas também já tínhamos
estado em muitos mais sítios onde colhemos a apreciação em
Louvor do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, Sua
Excelência General António de Spínola, não sendo pois os relatos
dos episódios de Guidage facto isolado para que fizéssemos uma
chamada de atenção.
Esclarecidos estes pontos que visam apenas dizer que a 38ªCC não
teria vindo a terreiro caso não tivesse sido menorizada e
depreciada a memória dos seus mortos, o sacrifício dos seus
feridos e o esforço de todos os seus componentes.
Para finalizar
esta introdução apenas realçar mais uma vez a atitude do coronel
Manuel Bernardo e também a do Coronel Paraquedista José de Moura
Calheiros que no seu livro a” Ultima Missão” sobre Guidage
relata de forma apropriada a actuação da 38ªCC, facto que nos
apraz registar.
Vamos pois iniciar uma apresentação da 38ªCC sobre a sua
participação na duas colunas a Guidage, respectivamente em
09Mai73 e em 29Mai73.
O primeiro relato tem o punho de Amilcar Mendez , que na altura
tudo foi passando a escrito em jeito de diário e que agora é
revelado.
Amilcar Mendez - 1º Cabo da 38ª Companhia de Comandos
Maio a Junho 1973 a Caminho de Guidage-Parte I
GUIDAGE , norte da Guiné
Portuguesa, fronteira do Senegal
A tomada de GUIDAGE a norte da Guiné, era uma das prioridades do
PAIGC, na lançada OP ‘’Amilcar Cabral’’.
Depois do aparecimento
dos mísseis ‘’STRELLA A24”, sabendo que pode controlar
eficazmente o domínio aéreo, o PAIGC concentra grandes efectivos
e meios junto a GUIDAGE, numa manobra clássica de cerco e
aniquilação.
Apoiado pelas suas bases junto á fronteira, o PAIGC tinha meios
e um fluxo de reabastecimentos fácil que lhes permitia um
elevado e sustentável poder de fogo.
Apesar dos perigo dos mísseis, o COMAEREO de Bissau tinha
desenvolvido uma táctica de defesa que permitia manter no ar os
Fiats G91, com algum grau de segurança.
É pois neste cenário que se dá o envolvimento da 38ªCCMDS,
começando a 9 de Maio 73 e que se prolongou até 12 Junho de 73.
Vamos por agora relembrar a 1ª entrada em cena da 38ªCCMDS a 09
Maio de 73.
Pelo mês de Maio de 73, a 38ª encontrava-se sediada em Mansoa
onde actuava às ordens do CAOP1.
A área envolvente operacional estendia-se da região do Morés até
às matas de Namedão, perto da nova estrada para Babadinca.
9 Maio 1973
ESCOLTA À COLUNA AUTO MANSOA- FARIM -MANSOA
FORÇA EXECUTANTE - 2 GR. COMB. (2º E 4º )
Por ordem de Sua EXª o SR. Brigadeiro ADJ. Operacional de Farim
ficam os 2 grupos de combate retidos em Farim para continuação
da escolta à coluna saída de Farim (DIA 10MAI73) e com destino a
Guidage.
Posta a coluna em marcha, chegámos a Farim já pelo fim da tarde,
mas como a noite se aproximava foi decidido ai pernoitar.
Soubemos entretanto que essa coluna transportava bens
alimentares e reabastecimento de material de guerra com destino
a GUIDAGE.
Soubemos também que dias antes (2) uma coluna escoltada por
tropa regular tinha sido desbaratada pelo IN, as viaturas
destruídas e ainda havia militares desaparecidos.
Nesse mesmo dia e depois da nossa chegada, foi-nos transmitido
que ficávamos retidos em Farim por ordem do Sr. Brigadeiro Adj.
Operacional para no dia seguir levar a coluna a GUIDAGE
10 Maio 1973
Saimos pela madrugada de Farim com destino a Binta, num trajecto
relativamente curto, pois passado uma hora estávamos em Binta,
onde nos aguardava um longa jornada numa picada com pouco mais
de uma dezena de Km, mas um trajecto infestado de minas,
obstáculos de árvores tombadas e PAIGC à espreita nas Bolanhas
do Cufeu.
Os picadores saem na nossa frente.
No inicio do trajecto a 38ª
segue nas viaturas da escolta.
Nota-se na picada o efeito das
minas, autênticas crateras.
Serão 16 km de picada até Guidage.
Um pelotão de Binta irá conosco até meio do percurso, depois
iremos sós.
Na frente os picadores lá vão detectando e
rebentando minas, a cada hora apenas andamos, para aí, 2 km.
Sabemos que de Guidaje saiu a CCAÇ 19, AFR, para vir ao nosso
encontro.
Antes de entrar na zona das Bolanhas, o Alf Rocha dá ordens para
todo o pessoal saltar das viaturas e segui apeado por ser mais
seguro.
Quem ainda seguia nas viaturas salta para o chão, e de imediato
ouve-se uma explosão.
Todo o pessoal se imobiliza no chão à
espera do que tinha acontecido.
Ouve-se gritos, o sol.Cmd Maq.
Mestre corre na direcção do som. O 1ºcab Filipe Tavares pisou
uma A.P. e ficou sem um pé.
O Mestre garroteia-o, faz os
primeiros socorros e deitámos o Filipe numa maca, no estrado do
Unimog.
O Alf. Rocha manda o pessoal seguir a pé ladeando a
picada.
Chegámos à bolanha do Cufeu, é impossível descrever o que
encontrámos sem sentir um aperto na alma: dezenas de viaturas
trucidadas pelas minas.
Corpos da última coluna que tentou
passar ainda estão pelo chão, são festim para os abutres.
É uma
visão arrepiante.
Pedaços das viaturas projetadas a dezenas de
metros pela acção das minas.
Estrada de abatizes.
Tentamos
não olhar, o cheiro fétido da morte entra pelas narinas.
Todo o atraso da paragem por causa do Filipe e por uma viatura
ter pisado uma mina, atrasou o nossa marcha.
Por esta altura já
deviamos estar fora da zona da Bolanha do Cufeu. À saída da
bolanha do Cufeu parámos.
Ouve-se ao longe tiros e rebentamentos.
A companhia que vinha ao nosso encontro (CCAÇ 19) caiu numa
emboscada na ponte.
Como nos atrasámos, CCAÇ veio andando ao
nosso encontro e a emboscada que era para nós...foi para eles!
Pelo rádio do Alf.Rocha ouvimos o oficial que comanda a CCAÇ9
emboscada, pedir apoio aéreo porque o IN é em muito maior número
e ele diz que está a ser dizimado.
"...
Longos minutos depois e ainda
com a emboscada a decorrer, dois Fiats aparecem e tentam dar
cobertura à companhia emboscada, mas dizem que é impossível
porque o IN esta demasiado próximo...."
Longos minutos depois e ainda
com a emboscada a decorrer, dois Fiats aparecem e tentam dar
cobertura à companhia emboscada, mas dizem que é impossível
porque o IN esta demasiado próximo.
Nós ainda estamos longe e
nada podemos fazer.
Pela rádio ouvimos o Oficial que comandava a
CCAÇ voltar a fazer apelo aos Fiats para bombardear.
Os pilotos
negam por o IN estar colado a eles e haver o perigo de os
atingir.
Muito tempo depois deixamos de ouvir disparos quando já
seguíamos em frente.
Seguíamos a um ritmo alucinante para chegar
antes da noite a Guidage .
Mais um morto na picada.
Pisou uma mina.
Ficou irreconhecível,
metade do tamanho.
É enrolado num poncho, posto no estrado de
uma viatura.
E continuámos. (Esse morto mais tarde iria ser
sepultado em Guidaje, onde ficou.)
Chegámos ao local da emboscada da CCAÇ 19.
"...
Só encontrámos mortos...."
Só encontrámos mortos.
Mortos e mais mortos.
Nossos e do IN.
Ficam para trás.
E E ali
irão ficar para sempre.
Já andámos há cerca de 10h na picada e
Guidage já não está longe.
Entramos em Guidage 12h depois de termos iniciado o caminho.
A reabastecimento chega intacta.
É a primeira coluna a
chegar de há três semanas a este tempo.
Assim que entrámos no
destacamento, somos brindados com um ataque de morteirada.
Com a noite vamos para as valas, que é onde se vive em Guidage.
Com a chegada da noite mais ataques .
Desta vez de canhão sem recuo e
morteirada.
O IN sabe que está uma Companhia de Comandos na vala
e vai tentar a todo o custo causar-nos baixas, o que
infelizmente vai conseguir.
Nas valas, em estado de alerta, é
impossível dormir.
De bom em Guidaje só o facto de não haver
mosquitos.
No total na primeira noite sofremos 10 ataques."
11 Maio 1973
Amanhece em Guidage.
Para o pessoal da 38ªCCMDS, e restante guarnição , não houve
noite para dormir.
DeDe hora a hora fomos brindados com ataque de morteiro 120, e a cada ataque nota-se que cada vez era mais preciso ,o que deixava
adivinhar colaboração de elementos IN infiltrados na POP.
Assim, pelo despontar pela manhã o bi-grupo tem ordem de saída
para patrulhamento ofensivo, como medida dissuasora para evitar
continuação dos ataques ao destacamento.
Guidage situa-se na fronteira com o Senegal, uma parte da pista
de aviação já entrava fronteira dentro, e foi por ai que a
38ªCCMDS entrou a fim de patrulhar e emboscar trilhos de
passagem.
Entrámos uns kms dentro do Senegal, e durante horas aí nos
mantivemos, revista a todos os naturais que seguiam a direcção
de Guidage , apreendemos pastas com documentos, mas não
avistámos elementos IN nem detectámos armas, o que leva a pensar
que foram avisados da nossa presença mas evitaram o contacto.
Pelo meio da tarde recolhemos a Guidage e instalámo-nos nas
valas para ai passar a noite.
As las abrigos de Guidage tinham uma profundidade ai de 70cm
de fundo e largura pouco mais do que um corpo, serviam para em
caso de ataque, a guarnição normal, corriam das casernas para
lá, para se proteger.
Foi nestas valas que o Alf Cmd Rocha, da 38ªCCMDS, decidiu que
todos ficaríamos durante o tempo que estivéssemos em Guidage.
Depois de recolhermos ao Destacamento, recomeçaram os ataques,
cada vez em maior numero e mais violentos, vinha do lado do
Senegal, não muito longe, pelo som de saída sabíamos ser
morteiro 120 e canhão sem recuo, intercalado com rajadas de ‘’costureirinhas’’.
Num desse ataque o Furr Cmd Marchao, ficou ferido com alguma
gravidade.
Num abrigo reforçado funcionava a enfermaria era pequeno e já
havia muitos feridos, alguns estavam nas valas, não havia
evacuação aérea, tinham de aguardar pela nossa volta para tal,
o Filipe Tavares continuava ferido com gravidade, o Maqueiro
CMD Mestre não saia do seu lado.
Em momentos de lucidez o Filipe gritava connosco , ‘’aguentem-se
, acabem com esse fdp, ‘’ e outros incentivos do género.
Só no dia da volta, é que o Filipe ‘’adormeceu’’, a toque de ‘’morf’’
para aguentar as dores.
Com a cadência dos ataques ao cair da noite, muitos elementos
da 38ª optaram por ficar fora da valas, abrigados nos sopés das
construções, casernas, cozinha, refeitório etc... , outros
sentiram-se mais seguros dentro das valas e aí continuaram.
Foi com este cenário nada agradável que nos preparámos para mais
uma noite em Guidage!
Hoje chegou pela manhã a Guidage o Alf, que comandava o Grupo
da CCAÇ19.
Depois da emboscada no dia anterior ficou com 4 homens, manteve-se
lúcido e esperou a manhã para regressar.
A CCAÇ 19 tem 8 mortos, oito feridos graves e 16 feridos
ligeiros.
Não consegue recuperar os mortos que são abandonados, no Cufeu…
O Alf Mil Soeiro vê-se sozinho com oito homens, 4 dos quais o
abandonam, o grupo anda perdido e só chegam a Guidaje no dia
seguinte...
12 Maio de 1973
A noite estava relativamente calma, o último ataque tinha sido
aí umas duas horas antes, estávamos alerta .
Alguns de nós vencidos pelo cansaço dormitavam, outros agarrados
à ‘’Cristal’’ vão refrescando a goela.
As vozes soam em sussurro e as luzes mortiças das torres de
vigia pouco mais deixam ver para lá da dupla cerca de arame
farpado.
Fora do arame, as zonas minadas asseguram que pelo menos não
teremos ‘’bonecos ‘’ no arame farpado.
O Sr. Alf. Cmd Rocha vagueia pelo meio do pessoal da 38ª e
conversa com todos.
E apesar do pouco tempo na 38ªCCMDS já comungou connosco do
sabor da morte, recebeu o seu Crachá apadrinhado pelos ‘’Leopardos’’,
foi aceite e sente-se confortável no nosso meio.
Na picada, quando o Filipe pisou a mina, o Alf. Rocha demostrou
serenidade, reagrupou o pessoal em volta dele e deu as ordens
precisas para levar a coluna a bom porto.
Também o Sr. Alf. Cmd Almeida esteve sempre junto do pessoal e,
nesta noite de espera, fez questão de ficar com o pessoal nas
valas.
Sem precisar a hora, mas pela duração, pelas 2 h da manhã
ouvimos as saídas dos morteiros 120, que foram pelo menos uma
dezena!
Por isso sabíamos que vinha a caminho morte e destruição.
"...
Alguém berrou no meio da noite ‘’MORTEEEEEEEIIIIROS!” e todo o
pessoal se movimentou de maneira a ficar protegido. ..."
Alguém berrou no meio da noite ‘’MORTEEEEEEEIIIIROS!” e todo o
pessoal se movimentou de maneira a ficar protegido.
Num minuto... o Inferno desceu em Guidage!
Curiosamente das primeiras morteiradas nenhuma acertou nas valas.
Seguiram-se uns minutos de silêncio, estávamos tensos e alerta
enquanto o Alf. Rocha percorria as valas a fazer a contagem.
Junto das valas apareceu o Sr Ten-Cor Correia de Campos a falar
com pessoal da 38ªCCDS para animar as tropas.
O PELOTÃO de Art 24 de Guidage remuniciava-se e tomava posições.
No silêncio da noite, de repente aí estão de novo saídas de
morteiro, mas desta vez em maior número!
Uns sons de explosão seco anuncia canhão sem recuo.
Muitos de nós, levados pela intuição e pelo que tinha acontecido
em ataques anteriores, suspeitávamos que o silêncio a seguir ao
início do ataque teria servido para, com indicação de elemento
IN infiltrado na POP, fazerem correção de tiro e acertar nas
valas.
Por esse motivo muitos de nós saíram da valas e protegeram-se no
amontoado de terra que fazia a margem da valas.
À chegada das primeiras granadas de morteiro seguiram-se mais
umas dezenas largas e o barulho era ensurdecedor.
Logo aos primeiros rebentamentos cumpriu-se o que alguns de nós
suspeitávamos e as granadas começaram a cair nas valas. Todo o
pessoal começou a saltar fora das valas e o ataque não parava.
Foi o mais longo!
A nossa artilharia respondia, mas com poder de fogo muito menor.
Explosão atrás de explosão iluminava a noite como se fosse de
dia.
Finalmente e depois de largos minutos, talvez mais de meia hora,
findou num repente, tal como começou.
O Alf Rocha mandou de imediato fazer a contagem e saber se
alguém estava ferido.
Percorreram-se as vala...faltavam dois homens.
"...
Na confusão de terra remexida das explosões dentro das valas, no
escuro e silêncio da noite jaziam dois corpos destroçados...."
Na confusão de terra remexida das explosões dentro das valas, no
escuro e silêncio da noite jaziam dois corpos destroçados.
Um amontoado de rostos tristes e incrédulos, olhavam o fundo da
vala, tentando perceber como e porquê.
Os nomes dos dois corpos foi sendo pronunciado, lágrimas rolaram,
a raiva da perca de um amigo é algo incontrolável.
Tínhamos, com o nosso CMDT de CIA Cap CMD Pinto Ferreira,
aprendido a dominar emoções, a suplantar fraquezas, a sermos
fortes na adversidade.
A sua calma, a experiência e o tornar simples coisas complicadas...
como teria sido útil ouvir uma palavra sua naquele momento!
O Alf Cmd Rocha e o Alf Cmd Almeida estavam tão abalados como
nós.
A pouco e pouco foi passando a informação : ‘’é um condutor da
Caop e o Zé Raimundo’’.
Era, de facto, um condutor e o Sold CMD José Luís Inácio
Raimundo, que dentro da valas as granadas de morteiro puseram um
final prematuro nas suas vidas.
Como as memórias a 43 anos de distância já começam a ficar turvas, e porque como descrevi não me encontrava dentro das valas, vem
o Sol. Cmd ''Leão'' em meu socorro, descrevendo os momentos que
se seguiram ao choque da descoberta do corpo do malogrado
Raimundo.
Seguinte: 2ª Escolta a Guidage