38ª Companhia de Comandos

Operacionais da 38ª Companhia de Comandos
em missão de patrulha


DEPOIS DE CHEGADA À GUINÉ A 38ª COMPANHIA DE COMANDOS INICIA A FASE OPERACIONAL

A FASE OPERACIONAL DA
38ª COMPANHIA DE COMANDOS

A Fase Operacional em Mansoa e Cerimónia dos Crachats
(Julho a 14 Agosto de 1972

Relato feito a partir das memórias do Capitão Comando Pinto Ferreira

 

A ida de Bissau até Mansoa foi uma pequena epopeia não por dificuldades do caminho mas foi feita sob o signo “um olho no burro outro no cigano” traduzido por miúdos quero apenas exprimir que no teatro como nos outros lados, os capitães travavam uma guerra no terreno e outra no âmbito administrativo de molde a chegar ao fim da comissão com as cargas certas pois qualquer falta era sempre solucionada à custa do soldo do Capitão.

Passar com as viaturas carregadas pelos diferentes aquartelamentos ao longo do percurso era um pesadelo pois da parte dos “velhinhos” havia sempre a tentação de acertar cargas e vai daí surripiar alguma coisa que a desatenção dos “periquitos” neste caso os meus homens deixassem levar.
 
Chegados a Mansoa fomos muito bem recebidos pelo comando do Batalhão local que atendeu a todos os nossos pedidos nomeadamente que tivéssemos uma área própria dentro do quartel onde pudéssemos desenvolver a nossa actividade de acordo com os nossos usos e costumes.

Recebemos uma parte (independente) do refeitório (com cozinha e depósito de géneros) um espaço para montar um Bar e casernas para as praças e sargentos enquanto que os oficiais ficaram instalados fora do quartel.

Também tivemos direito a parada onde fazíamos a cerimónia da Bandeira.

Quartel em Mansoa em 1972


Por último gabinete para o comandante de companhia, secretaria e arrecadações. Logo nos primeiros dias começamos a rebocar, pintar e a decorar com os símbolos “Comando” as instalações recebidas.

Apraz-me dizer que o Batalhão nos solicitou que déssemos a guarda à porta de armas e assegurássemos um sector de defesa no perímetro do aquartelamento.

Em paralelo com esta actividade iniciou-se a fase operacional sob a orientação do capitão comando Germano Miquelina Simões, oficial do Batalhão de Comandos Guiné e com a colaboração do oficial de operações do batalhão de Mansoa.

É conveniente dizer que logo desde a chegada o pessoal da companhia foi “emprenhando” pelos ouvidos devido aos naturais contactos com as outras forças existentes na povoação. Foi uma das coisas que me chamou à atenção em comparação com o curso feito em Angola.

Nesta fase do “campeonato” um elemento de Angola estaria de garras afiadas e dentes prontos a morder pelo pescoço qualquer inimigo que lhe aparecesse pela frente.

E eu sem dar conta pois andava ocupado com as mais diversas matérias só me apercebi da questão quando na primeira vez que nos preparamos para sair do quartel para dar uma volta apeada pelos arredores, verifiquei ao passar revista ao pessoal que só lhes faltava tirar as cavilhas às granadas tal tinha sido a “AP” que lhes tinha sido feita.

Tive que acalmar o pessoal e explicar-lhes o que íamos fazer, mesmo assim houve quem não estivesse muito convencido da bondade das minhas explicações.

As acções da fase operacional foram delineadas de forma a que progressivamente nos fossemos aproximando das áreas onde de certeza iríamos ter contactos com inimigo.

A zona a norte de Mansoa, numa área delimitada, a oeste, pela estrada Mansoa Bissorã e a sul pela estrada Mansoa Mansabá, e que era genericamente conhecida por área do Mores foi a escolhida para tão importante fase da preparação e aprontamento.



Foi cerca de um mês que decorreu de 10 de jul72 a 13 Agosto e serviu para provar o travo amargo do ambiente e das intenções do inimigo.

As primeiras acções deram como resultado a ausências de contacto com o inimigo, dando apenas para conhecer o terreno e a nós próprios.

Habituamo-nos progressivamente à sede (a poupar a água dos cantis já que não havia possibilidades como em Angola de encontrar água potável).

Depois foi a captura de 4 elementos da população.

Na seguinte as coisas já correram de forma muito mais séria.

Um grupo foi mandado patrulhar a zona a este da estrada Mansoa – Bissorã, actuando de acordo com as regras detectaram um elemento armado que se aproximava do local onde se encontravam.


"... A emboscada funcionou, o inimigo foi morto, sendo capturada uma espingarda semiautomática Simonov...."


A emboscada funcionou, o inimigo foi morto, sendo capturada uma espingarda semiautomática Simonov.

Na sequência dos disparos elementos inimigos presentes na zona detectaram a nossa presença o que assinalaram através de disparos para o ar.

E aqui algo mais que funcionou mal, comparado com o que era regra no curso de Angola.

A fase operacional em Angola era necessariamente mais curta pois a adaptação ao clima ao ambiente etc. estava feita já que começava no início do curso e mantinha-se até ao final.

Neste sentido a operacional tinha como finalidade a realização de uma operação programada onde o que interessava era o contacto com o inimigo e examinar como os novos comandos se portavam debaixo de fogo.

Assim cada unidade isolada levava consigo (no mínimo) um membro do corpo de instrução que além de examinar, aconselhava e instruía quando via as que as decisões tomadas podiam sair asneira.

 

O que reza a história oficial sobre o treino operacional antes da entrega dos “crachats”





 

Seguinte: Descrição da Operação Feitura I

 


Trigésima Oitava Companhia de Comandos
A Sorte Protege os Audazes
Guiné 1972 - 1974

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