Elisabete Gonçalves
Amiga e testemunha da
38ª Companhia de Comandos
TEXTOS DA
ELISABETE PARA A 38ª COMPANHIA DE COMANDOS
Respeito!
Desde tenra
idade e de cada vez que no RI13 eu lia “Palpita um peito d’Aço
em cada farda...” eu levava a coisa ao “pé da letra” e
deslindava o mistério com a leveza infantil de pensar que o
deveria ser na verdade, por causa das medalhas que briosamente
ostentavam os soldados nas suas fardas engomadas em dia de
parada militar. Atribuía-lhes grande valor pecuniário , à
semelhança do áureo trancelim minhoto da minha avó Ana, que saia
do baú em dias especiais e que para lá retornava depois de
cumprir a sua missão de abrilhantar o traje colorido, que sempre
fez questão de envergar no orgulho de ser quem era.
Mais tarde, nas brincadeiras em que se premiavam os mais afoitos
com medalhas feitas de caricas de Sumol, percebi que o valor não
estava no metal de que eram feitas, mas sim na acção de grandeza
e coragem que representavam. Para as ganharmos gastávamos a
última réstia de fôlego nas corridas ou engolíamos o pânico das
vertigens para subir ao pinheiro mais alto. Ganhávamos calças
rotas e resina teimosa nas mãos , além dos dois dias de
castigo,mas também o respeito dos nossos pares que passavam a
olhar-nos e a ouvir-nos com outra deferência e atenção. “Ganhei-as...porque
as mereci! Esforcei-me e dei o meu melhor para isso.” –pensávamos.
Foi com este sentimento que cresci e por isso fico a raiar a
consternação, quando, seja em que situação for, vejo falar delas
com desdém, reduzindo o seu simbolismo a uma “fogueira de
vaidades”. Constato que , não tanto com os atletas ( que se
esforçam em equipa, mas a maior parte das vezes em desafio
individual) mas com os militares, a “vox populi” a quem servem,
é extremamente redutora e até malévola na apreciação que faz a
quem, com a maior legitimidade, as ostenta.
Se a maior parte dos “comentadores de ocasião”, se desse ao
trabalho de empregar apenas uma quota parte do tempo que gasta a
ver programas de “estupidificação em massa” e procurasse
entender um pouco do seu significado, não diria as barbaridades
que se permite, em lassidão de certezas de sofá, dizer.
Quando vejo um peito ornamentado como o da foto, fico
boquiaberta com o que ali se espraia, o percurso de vida que ali
se revê, as atitudes de coragem, honradez, exemplo e bravura que
traduzem. Seja ele de quem for, o legítimo possuidor de tal
“curriculum vitae”, merece desde logo o meu respeito.
Há um código para a sua aplicação, que faz com que se prendam em
primeira fila, e da direita para a esquerda, as que são de Valor
Militar. E acreditem que para ter uma Cruz de Guerra, alguém
cometeu um acto da maior bravura em defesa de camaradas ou civis,
mesmo com o risco da própria vida! Algumas são representativas
de toda uma Unidade, personificada na pessoa do seu Comandante,
outras de serviços exemplares e demasiado importantes para toda
uma Nação, outras de comissões em territórios onde o nome de
Portugal foi bem longe e nos tornou conhecidos como “bravos e
valerosos”, como gostamos de acreditar que somos. As
comemorativas são as de última fila e cada uma tem um
significado não menos importante que todas as outras.
Ganharam-nas. Mereceram-nas! Podem e devem, à semelhança do
cordão de ouro da minha avó, sair do baú quando o seu dono o
entender e abrilhantar, orgulhosamente e até com vaidade- porque
não?- quem se esforçou até à última gota de sangue, suor e
lágrimas nas milhentas horas gastas, para as merecer.
Há uns dias li uma frase proferida por um desses homens que
muito admiro e respeito, que sintetiza tudo o que penso acerca
deste assunto. Questionado sobre qual seria o peso em quilos de
tal “parafernália” no seu peito, com a simpatia , inteligência e
boa disposição que o caracteriza, respondeu:” Pesa 31 anos de
carreira e passagem por muitos sítios, alguns ...pouco
simpáticos !”
O que eu não consigo, por muito que o tente,é perdoar ao Rui
Veloso ( que adoro!)...a malfadada “Valsinha das Medalhas”, onde
contraria tudo o que aqui afirmei. Ao menos...”safa-se” a música,
que é gira. :)
Foto: Tenente Coronel COMANDO Marcelino da Mata
http://ultramar.terraweb.biz/CTIG/Imagens_CTIG_TenCorMarcelinodaMata_JoaquimSpinola.htm