TESTEMUNHOS
E CONTRIBUTOS
38ª Companhia de Comandos — "Os Leopardos"
A História que não foi contada
O 25Abril 74 na Guiné Portuguesa,
a 38ªCCMDS, o Sr. Major "esclarecido", o PAIGC e o jogo de "Brutebol".
A 19 Abril 74, foi enviado do BAT CMDS da Guiné - Brá, com
destino a Teixeira Pinto, um grupo de Comandos da 38ªCCMDS,
chefiados pelo Sr Alf CMD António Mendes Da Silva , com o
propósito de se preparar instalações para a 4041°CCMDS que
estava para chegar a Bissau, para nossa rendição, e para que
lhes fosse dado a fase Operacional em terras do Cachungo.
Conto estes acontecimentos na primeira pessoa por estar inserido
neste grupo.
Fomos apanhados de surpresa pelas notícias do diz-se, de que
alguma coisa tinha acontecido por Lisboa, falava-se em golpe de
militares.
Foi preciso esperar dois dias para que informações mais precisas
nos esclarecessem o que de facto tinha acontecido.
No dia 28 Abril (creio) fomos informados pelo nosso Alf. que um
Sr. Major (delegado do MFA?) queria transmitir algumas
informações dos acontecimentos .
Ponto 1- Tinha havido uma revolução e a Guerra tinha acabado.
(1)
Ponto 2- Que estava a caminho uma delegação do PAIGC, para ser
recebida pelas chefias militares de Teixeira Pinto. (2)
Ponto 3 - Que estava agendado um jogo de futebol com os
elementos do PAIGC com militares locais. (3)
Ponto 4- Que durante essa visita, os Comandos não deveriam andar
armados. (4)
(1)como tinha acabado a guerra se depois do 25Abril ainda houve
mortos em combate?
(2)-Para os grupo de Comandos, que dependia da chefia directa do
BAT CMDS da Guiné, o PAIGC continuava ser o IN.
(3)Transmitimos de imediato ao Sr Major que não pretendíamos
confraternizar com o IN, até porque carregavamos ainda a memória
de 5 camaradas tombados nas terras do Cacheu.
(4)Na questão das armas fizemos sentir de imediato ao Alf Mendes
da Silva que não acatavamos esse tipo de ordem.
No dia anunciado para o "evento", recepção e bajuliçe ao IN,
compareceu o grupo da 38CCMDS junto da porta de armas, equipado
para o efeito ; Farda camuflada, Crachá ao peito, e numa atitude
amistosa, com as "Bazukas" RPGS, dilagramas, HKs e MG.
Tinhamos deixado na "sessão de esclarecimento" qual seria a
nossa atitude.
Penso que a levaram a sério, pois do IN nem cheiro.
Pelo atraso da 4041°CCMDS na chegada á Guiné, regressou o grupo
ao BAT CMDS - BRÁ no dia 10 de Maio.
No dia 19 Maio regressámos a Teixeira Pinto já com a Companhia
4041.
Ali permanecemos até 12 de Junho 1974, vi várias vezes o Sr
Major atarefado nas suas "abriladas", mas nem sinal do PAIGC em
Teixeira Pinto, enquanto lá estivemos, nada.
Penso ter perdido a oportunidades de ter finalmente conhecido o
grande M'bana Cabra , o terror da Caboiana.
Ou ele não nos quis conhecer.
Embora a 38CCMDS tivesse permanecido na Guiné, já com a comissão
terminada, mais dois meses após o 25Abril, o PAIGC nunca foi
nosso companheiro de café. Coisas...
Abraço aos meus camaradas da 38CCMDS.
Ao Mendes da Silva que sei não foi fácil lidar com toda a
situação.
Nota - Data deste encontro! 8 Abril 74
MFA - Preparativos para a Acção.
Otelo Saraiva de Carvalho encontra-se com Alexandre Aragão,
representante do Movimento em Bissau, a quem informa do plano
previsto e com quem combina uma alternativa de acção, caso o
Movimento venha a falhar em Lisboa.
A alternativa consistia na execução do plano já preparado pelo
MFA da Guiné, que previa a neutralização de todos os comandos
que se opunham ao Movimento e a abertura de negociações com o
PAIGC vinte e quatro horas depois da acção em Portugal.
Testemunho efectuado pelo 1º Cabo CMD Amilcar Mendes da 38ª
Companhia de Comandos
Voltar
Testemunhos da 38ª Companhia de Comandos