OPERAÇÕES DA 38ª COMPANHIA DE COMANDOS
OPERAÇÃO JOGADA XIII
38ª COMPANHIA DE COMANDOS
28 de Março de 1973 - Operação
Jogada XIII
Relato feito a partir das
memórias do Capitão Comando Pinto Ferreira
Depois temos a acção “Jogada XIII” que eu sempre tive na memória
como Joeirada mas que na folha oficial vem com esta designação e
esta tinha que ter história.
Primeiro pelo XIII.
Na altura estávamos a conduzir uma série de acções com aquele
nome e por norma com um número em sequência.
Com o aproximar do número 13 alertamos a secção de operações do
CAOP para saltarem o nº 13 pois nos Comandos tal número era
sinónimo de má sorte.
Quem nos atendeu compreendeu a nossa posição e acordou no
sugerido.
Como imaginam o nosso espanto e indignação quando recebemos a
ordem de operações com o nome “Joeirada XIII”.
Mas já não havia volta a dar.
Na altura a situação da 38CC em termos operacionais era de estar
articulada em 2 bi grupos.
Neste tipo de acções e porque a sua duração era de 24 horas num
dia saía eu com um bi grupo e no dia seguinte saía o meu adjunto
com o outro.
A zona era já minha conhecida pois por diversas vezes já tinha
palmilhado o seu chão.
Já conhecia os pontos sensíveis e a minha actuação tinha sempre
em atenção esse pormenor, o principal neste local era nunca
utilizar o itinerário de ida para efectuar o regresso.
Por questões de aproximação e já que havia que cambar uma
bolanha escolhíamos o sitio onde as suas margens eram mais
próximas de maneira a evitar estar numa situação de fraqueza
face ao inimigo.
No dia 28 Março 73, o bigrupo assim efectuou, cruzando a bolanha
no sítio onde era mais estreita algo que eu próprio já tinha
efectuado várias vezes.
No regresso dava uma grande volta para não ter de utilizar
novamente o mesmo terreno.
Aplicava aqui aquele princípio: “o suor produzido era sangue que
se evitava derramar “.
Não quis quem conduzia a acção seguir tal principio e por algum
motivo resolveu regressar à estrada onde ia ser recolhido
utilizando o mesmo itinerário.
Às vezes somos nós que procuramos o azar.
E ele aconteceu.
O sítio onde cruzávamos a bolanha tinha um trilho mal batido e
no meio do trilho um velho tronco deitado obrigava-nos a passar
por cima para seguirmos a nossa direcção.
O inimigo devia ter reparado nestas nossas movimentações e
esperava que cometêssemos o erro que agora íamos cometer.
Depois do patrulhamento feito e já no regresso aí vem o nosso
bigrupo exactamente pelo mesmo caminho metendo-se a passar o
trilho no local do costume.
À frente o guia o Chefe das Milícias do “Cussaná” o tal que
meses antes me tinha conduzido de noite ao longo de uma bolanha
paralela a estrada Mansoa Cutia e que nos levou à captura de
duas armas numa operação resposta a uma anterior.
O infeliz ia à frente, passou o tronco e ao poisar o pé no chão
accionou uma mina anti pessoal que lhe amputou um pé e parte da
perna.
"...
Quando se iniciavam os primeiros socorros e os preparativos para
a evacuação, o inimigo fez fogo de morteiro para a zona
obrigando a uma saída rápida do local. ..."
Quando se iniciavam os primeiros socorros e os preparativos para
a evacuação, o inimigo fez fogo de morteiro para a zona
obrigando a uma saída rápida do local.
Debaixo destas condições foi possível fazer a evacuação aérea e
continuar a progressão para o local previsto.
Só que precisamente no local de recolha o inimigo esperava e
efectuou uma flagelação que nos custou mais dois feridos
ligeiros.
No final a nossa contabilidade assinalou a morte de um
guerrilheiro e de vários feridos e a captura de uma granada de
mão tipo espanhol.
Como sempre digo neste tipo de guerra os erros pagam-se caro e é
sempre de evitar as soluções que nos parecem mais fáceis por
exigirem menos esforço (menos suor) pois no final os custos são
incomparavelmente maiores.
O mês de Abril vai passar-se sem acontecimentos dignos de
registo em termos operacionais apenas contactos com elementos da
população que se encontravam debaixo de controlo inimigo.
E vamos chegar ao mês de Maio de 73 último mês em que tomei parte
activa em operações com a 38CC.