Elisabete Gonçalves
Amiga e testemunha da
38ª Companhia de Comandos
TEXTOS DA
ELISABETE PARA A 38ª COMPANHIA DE COMANDOS
Quem se lembra da FBP 9mm?
DTodas as
famílias , a par dos “esqueletos no armário”, possuem termos e
citações que só eles entendem. Na minha há uma que ficará
eternamente ligada aquela arma, que nós dizemos em tom de riso
ser parecida com uma embalagem de silicone no seu carregador,
que é a mítica FBP 9mm.
“A FBP é uma pistola-metralhadora projectada no final da década
de 1940 por Gonçalves Cardoso, Major de Artilharia do Exército
Português, combinando as funcionalidades da MP40 alemã e da M3
americana. O resultado foi uma arma de confiança e com baixos
custos de produção.
A arma acabou por ser produzida pela Fábrica de Braço de Prata
(FBP) em Lisboa, com cuja sigla foi baptizada.”( in Wikipédia).
Em 1961, o meu pai fazendo jus à tradição familiar que vem de
longe de atiradores certeiros, numa prova de Pentatlo Militar
feita em Espinho ( com elementos de todas as unidades do país),
conseguiu ser escolhido para representar Portugal na Alemanha,
ao obter a melhor pontuação na prova de tiro de precisão com a
Mauser (arma de repetição em que tem que se puxar a culatra
atrás para dar o tiro seguinte), a uma distância de 100m para um
alvo em movimento, em que acertou 9 dos 10 tiros de 2
carregadores de 5 munições( sendo também necessária a sua
substituição) no tempo de 1 minuto.
O rebentar da Guerra Colonial gorou-lhe a viagem até à terra dos
“bofes”, coisa que ainda hoje lamenta, uma vez que em 21 Abril
desse mesmo ano,a viagem que lhe estava destinada era outra: com
a sua companhia de Caçadores 95/ Batalhão de Caçadores 92 , em
12 dias de enjoos e “carga ao mar” no mítico Niassa, foi a 1ª
tropa a desembarcar em Angola.
Com a primeira versão da FBP que apenas fazia tiro de rajada (mais
tarde foi modificada, sendo-lhe adicionada a opção de semi-automático),
arma nervosa que sem delicadeza vomitava de uma só vez o seu
carregador de 32 munições, o meu pai ganhou fama de “domador” da
dita-cuja em terras de “além –mar”, ao conseguir apenas com a
sensibilidade no gatilho, marcar a cadência da marcha ao som do
tiro ( tan...tan...tan.trrram!).
Esta história ficou para sempre aliada à precisão e empenho com
que se fazem todas as coisas e tarefas na nossa família, que
continua a manter a boa tradição de atiradores certeiros, sejam
homens ou mulheres (perdoem a imodéstia mas diz o meu pai que
acerto com arco, pistola, revólver,carabina, caçadeira, arma de
pressão ou até uma fisga...no “buraco de uma agulha”!) e agora
no meu filho, que na sua primeira prova de tiro a 100m na
instrução militar, me mandou uma SMS a dizer que acertou em 19
de 20, sabendo que iria ficar orgulhosa. Mandei outra de volta a
dar-lhe os parabéns e também com a pergunta: “Estiveste bem, mas
para seres exímio... sabes o que ainda te falta?”. A resposta
veio célere, certeira e com cheiro a pólvora de munição real,
juntamente com um “smile sorridente”:
“Sim, sei. Falta-me “tocar caixa” com a FBP, como o avô! :
Foto: PR Craveiro Lopes