Elisabete Gonçalves
Amiga e testemunha da
38ª Companhia de Comandos
TEXTOS DA
ELISABETE PARA A 38ª COMPANHIA DE COMANDOS
Operação Galáxia Vermelha
Também
daquela vez, apenas quando embarcados na LDG Bombarda que
esperava pachorenta no cais de Bissau, souberam qual era a
missão. A saída do aquartelamento fazia-se em silêncio, sem
troca de palavras, informação ou destino, numa prevenção
instituída já há algum tempo, para que ninguém que pertencesse
ao outro lado se pudesse prevenir ou emboscar.
Embarcaram a 1ª, 2ª e 3ª Companhia de Comandos Africanos e a
38ªCCMDS e, apinhados,souberam que seriam todos os corpos
celestes que formariam aquela que seria denominada “Operação
Galáxia Vermelha”. Rumou-se a Cadique e durante seis horas, até
se avistar a região do Cantanhês, tentaram espaventar o receio e
o nervoso miudinho, aquele que eriça os pêlos da nuca e nos
deixa em estado de vigília permanente, com risos e larachas e
bebida de “mijoca de cevada” que, para o caso, servia o seu
propósito.
Sob o comando do Major CMD Raul Folques e durante doze dias
fez-se o reconhecimento, desarticulação e destruição da
organização IN em Cachamba Balanta, Cachamba Sosso e Darsaleme,
com o intuito de aliviar a pressão sobre o eixo Cadique-Jurembém.
Nos relatos e testemunhos de quem o viveu, para além do cansaço
e pressão, (foi quase combate corpo-a-corpo! E mesmo quem já
tinha tanta experiência no combate, ainda hoje se confessa
incrédulo na raiva que se vai buscar ao fundo da alma no calor
de fogo em que se joga a vida, ao ver um possante IN caminhar
crivado de balas e faca em riste para abater o objecto do seu
ódio visceral, sucumbindo apenas aos pés da sua “praia”!) ficam
as memórias de um grito separado por escassos metros, onde se
ouviu nitidamente um “agarra à mão....que é Comando!”.
Mas, como sempre, o que define a personalidade de um grupo de
audazes,o que na verdade os torna extraordinários e incomuns,
não é o material bélico que apreenderam, o IN que fizeram
debandar ou as baixas que infligiram certeiras em quem os
antagonizava e lhes preconizava e desejava a morte. Não, não é
do seu heroísmo e sangue-frio em batalha que gostam de falar,
lembrar ou chamar à colação. Isso, apenas quem está atento o
pode ler nas entrelinhas. “Ninguém fica para trás!”, velha
máxima que levam à letra por mais de quarenta anos. O que
ressalvam, rememoram, choram em saudade e sempre falam....é de
quem não sobreviveu a esses dias, como se fosse uma ferida que
carregam no peito aberta à bala....e que ainda não fechou...nem
fechará ...ou sarará nunca.
No dia 24 de Dezembro, em plena Operação Galáxia Vermelha, foram
atingidos na cabeça o Soldado Comando Alexandre da Costa ( que
ficou em coma para nunca mais acordar e morrer 4 meses depois,
em Abril de 74, já num Hospital da Metrópole) e o Soldado
Comando Mendes ( que viria a sobreviver e ficar tetraplégico,
vindo a falecer mais tarde por falência renal devido a
complicações da sua condição). Houve ainda mais feridos, mas
referem-se hoje estes dois camaradas porque, hoje, precisamente
hoje...cumprem-se 41 anos em que, na verdade, os perderam para
sempre!
O mais profundo e sentido “MamaSumae” para eles...onde, neste
imenso Universo de estrelas e galáxias de cores imemoriais sem
fim, se encontrem.
Até um dia, Camaradas!